Entrevistas realizadas por Suely Rolnik entre 2002 e 2010, no Brasil, na França e nos Estados Unidos, e que compõem o Arquivo para uma obra-acontecimento, projeto de ativação da memória corporal da poética de Lygia Clark e seu contexto.
"Arquivo para uma obra-acontecimento mergulha de maneira precisa e intensa em aspectos pouco discutidos do trabalho de Lygia Clark (...) É importante que tenhamos em mente tratar-se de uma artista cuja inserção no terreno da chamada arte contemporânea se dá de forma tão autêntica, que sua trajetória põe em questão as próprias categorias e conceitos institucionalizados por grande parte da história e da crítica (...)"
Danilo Santos Miranda – Apresentação do projeto, 2010.
Lygia Pimentel Lins (1920-1988), conhecida como Lygia Clark foi uma pintora e escultora brasileira. Na década de 1940, inicia sua formação artística no Rio de Janeiro, orientada pelo paisagista Roberto Burle Marx. Na década seguinte, em Paris, estuda com Fernand Léger (1881-1955), Arpad Szenes (1897-1985) e Isaac Dobrinsky (1891-1973). Realiza em 1952 sua primeira exposição individual, no Institut Endoplastique.
Em 1954, participa da criação do Grupo Frente, liderado por Ivan Serpa (1923-1973) e considerado um marco no movimento construtivo das artes plásticas, rompendo com os tradicionalismos da academia. Ao participar da I Exposição de Arte Neoconcreta (1959), assina, ao lado de Amílcar de Castro, Ferreira Gullar, Franz Weissmann, Lygia Pape, Reynaldo Jardim e Theon Spanudis, o Manifesto Neoconcreto. Passa, então, a defender novas formas para sua pintura, que ultrapassem os tradicionais suportes.
Na experimentação de novos materiais, formas e suportes, segue sua trajetória artística, com obras que demandam a coparticipação do espectador. Na década de 1960, leciona artes plásticas no Instituto Nacional de Educação dos Surdos, o que lhe permite a exploração sensorial na criação artística, como em A casa é o corpo (1968).
De volta à França, na década de 1970, torna-se professora na Faculté d´Arts Plastiques St. Charles, na Sorbonne, e dedica especial atenção às experiências corporais como meio de uma participação mais ativa do público. Nos anos 1980, sua obra ganha projeção internacional, e é tida como um dos elementos fundadores da arte contemporânea brasileira.
Entre 2002 e 2010, Suely Rolnik desenvolveu um projeto de construção de uma memória corporal sobre a obra da artista Lygia Clark. Como resultado, foram realizados filmes de entrevistas e eventos no Brasil e no exterior.
Através de uma parceria entre o SESC-SP, a Cinemateca e a Sociedade Amigos da Cinemateca, com recursos do Fundo Nacional de Cultura, o projeto Arquivo para uma obra-acontecimento reuniu, em uma caixa com 20 DVDs, parte das entrevistas realizadas com artistas, críticos de artes, curadores e diretores de museu sobre a obra da artista brasileira Lygia Clark.
No Banco de Conteúdos Culturais estão disponíveis 16 filmes com depoimentos de Anne-Marie Duguet, Annette Malochet, Caetano Veloso, Carlos Cruz Diez, David Medalla, Ferreira Gullar, Gaëlle Bosser e Claude Lothier, Guy Brett, Ivanilda Santos Leme, Jards Macalé, Marie-Ange Guilleminot, Mário Carneiro, Pierre Fédida, Ricardo Fabbrini, Suely Rolnik, e Yve-Alain Bois.