Fundada em 1949, a Companhia Cinematográfica Vera Cruz S.A. tentou se aproximar do exemplo hollywoodiano com um alto padrão de estúdios, e uma equipe técnica bastante qualificada, que legou uma inestimável contribuição para as novas gerações do cinema nacional. Os 18 longas-metragens produzidos até 1954 realizaram os ideais fundadores da companhia, levando às telas um reconhecido apuro técnico e qualidade interpretativa.
"[...] A Vera Cruz foi mesmo uma verdadeira escola [...] os melhores técnicos que temos hoje em qualquer campo foram os que saíram da Vera Cruz, e depois se encarregaram de ensinar para os mais moços. Isto é verdade, não há o que negar. A Vera Cruz foi a revolução técnica do cinema brasileiro."
Anselmo Duarte, ator e cineasta. In: GALVÃO, Maria Rita. Burguesia e cinema: o caso Vera Cruz, 1981.
"Do planalto abençoado para as telas do mundo" era o slogan da aposta de São Paulo para a sua indústria cinematográfica nos moldes hollywoodianos: a Companhia Cinematográfica Vera Cruz S.A. Fundada em 1949 por Franco Zampari e Ciccillo Matarazzo, a Vera Cruz contou com o apoio da burguesia paulista, empenhada em modernizar o cenário cultural a sua volta.
Se os estúdios da Vera Cruz em São Bernardo tentavam aproximá-la do exemplo norte-americano, a mão de obra altamente qualificada chegava da Europa. A começar por Alberto Cavalcanti, prestigiado cineasta brasileiro naquele continente, que capitaneou a primeira equipe da companhia; e as mais de 25 nacionalidades de profissionais que deixaram uma inestimável contribuição para as novas gerações do cinema nacional.
Uma diversificada trajetória de 18 longas-metragens marcou o período clássico da Vera Cruz, encerrado em 1954, com obras que transitaram entre o melodrama, a comédia, o filme histórico, o filme de aventura e o filme policial. Nomes como Abílio Pereira de Almeida, Flamínio B. Cerri, Fernando de Barros, Tom Payne e Luciano Salce estiveram à frente das realizações da companhia; além do polêmico Lima Barreto, diretor do premiado O cangaceiro (1953) e dos documentários: Painel (1950), Santuário (1951) e São Paulo em Festa (1954).
O reconhecido apuro técnico das suas produções somou-se à qualidade interpretativa, bastante influenciada pelo Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), cujo diretor artístico, Adolfo Celi, dirigiu Caiçara (1950) e Tico-tico no Fubá (1952), dois sucessos de bilheteria da Vera Cruz. Do elenco que passou pela companhia, Eliane Lage, Marisa Prado, Mário Sérgio e Alberto Ruschel foram intérpretes recorrentes; enquanto Tônia Carrero, Cacilda Becker, Paulo Autran, Anselmo Duarte, Ziembinski e Amácio Mazzaropi alcançaram destaque, tanto no cinema como em outros meios artísticos.
Sempre em busca do padrão internacional, suas onerosas produções contaram com um insuficiente esquema de distribuição, tornando insustentável o seu modelo de negócios. Com o endividamento, a Vera Cruz encerrou suas ideias iniciais em 1954. Produções da Cinematográfica Brasil Filmes Ltda., como O gato da madame (1956), Osso, amor e papagaios (1957), Estranho encontro (1957) e Ravina (1959) deram continuidade às atividades da companhia paulista. Nos anos seguintes, as realizações do diretor-produtor Walter Hugo Khouri, como Noite vazia (1964), Corpo ardente (1966), Verão de fogo (1969) e O palácio dos anjos (1970), mantiveram a marca Vera Cruz, mais pelo uso da estrutura dos seus amplos estúdios, que também serviram para diversas produções televisivas.
Com a política do Ministério da Cultura para a aquisição e preservação de acervos significativos para a história do cinema brasileiro, entre 2009 e 2012, foi possível concluir a entrega do conjunto documental da Vera Cruz para a Cinemateca Brasileira. No Banco de Conteúdo Culturais estão disponibilizados materiais audiovisuais, fotografias e cartazes de importantes obras dessa grande companhia cinematográfica paulista.